quinta-feira, 14 de julho de 2011
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Vida na concentração
Paulo André Cren Benini*
O que você faria se tivesse que ficar 120 dias por ano dentro de um quarto de hotel? Esse é o número médio que um time de futebol brasileiro, que joga 60 vezes ao ano, fica concentrado. Não estou contando pré-temporadas, inter-temporadas e concentrações duplas (com dois dias de antecedência à data do jogo).
Para a maioria das pessoas, ficar em um hotel lembra férias e curtição. Estar cada final de semana numa cidade do país, viajando, comendo bem e jogando bola seria um sonho pra qualquer um. Mas a nossa realidade não é bem essa. Aliás, já ouvi tantos mitos sobre o que supostamente se passa em uma concentração que resolvi escrever um post sobre isso.
Aeroporto, ônibus, hotel. Chegando ao hotel, subimos ao nosso andar, onde ficam todos os atletas divididos em quartos de dois. Desse andar só saímos para almoçar e jantar numa sala reservada do próprio hotel. As outras três refeições que temos (café da manhã, café da tarde e café da noite) são feitas no próprio andar dos quartos, para facilitar nossa vida e evitar contato com outras pessoas.
Além das refeições, temos costumeiramente duas palestras feitas pelo treinador, uma no sábado à noite e a outra no domingo antes do jogo, onde são passados vídeos sobre os adversários, sobre a nossa equipe, erros, acertos, possibilidades táticas e discursos motivacionais para que a equipe entre voando em campo.
Os horários para as refeições e palestras são sempre respeitados e para garantir isso, os seguranças do clube se revezam e ficam 24 horas por dia no andar do hotel, nos avisando e nos fiscalizando sobre as atividades e os horários. Eles são vigias e quando você quer receber alguém no lobby do hotel (porque no andar é proibido até para a família), um dos seguranças desce com você, para que nada de errado aconteça.
Por tudo isso, 90% do tempo concentrado se passa dentro do quarto. Aí é que vem o problema, já que não existem muitas atividades que podem ser feitas ali dentro. Já concentrei com um monte de gente, cada um tem um estilo próprio e não é fácil achar um companheiro que não te atrapalhe muito. (risos)
Uns conseguem ligar ao mesmo tempo a TV, o Ipod e ainda ficar na internet enquanto você quer dormir (e vice-versa). Outros dormem até meio dia, quando você decide acordar cedo e por respeito ao sono alheio resolve não ligar a TV. Uns falam ao telefone como se estivessem debaixo de uma cachoeira, gritando horrores para serem escutados. Tem aqueles que deixam o celular ou o rádio no último volume e recebem ligações às 2 horas da manhã. Além disso, muitas outras diferenças culturais e de gosto podem surgir quando você concentra com um colega de profissão. O que é natural, afinal cada um tem seu jeito.
Vou citar os hobbies mais costumeiros para se distrair em uma concentração e depois aceito sugestões de vocês… Prometo que passarei para todos os jogadores, afinal, adivinhem onde estou escrevendo esse texto? (risos)
Vejam as inúmeras opções disponíveis:
1) Dormir
2) Conversar (sozinho ou com alguém)
3) Ficar na Internet
4) Ler um livro
5) Utilizar a TV (filme, seriado, vídeo game)
6) Jogar baralho
7) Ouvir música
8) Falar no telefone
Mais uma vez, olhando assim, parecem férias e lazer, mas quando chegamos no meio do ano já não há filmes que não tenhamos visto, não há conversas com o companheiro de quarto que já não tenham sido discutidas, não há Twitter, MSN, Facebook ou internet que distraia. Jogos de baralho são raros, pelo menos nos clubes por que passei. É difícil juntar mais de quatro ou cinco atletas, pois cada um tem seu ritual de matar o tempo e de se preparar para o jogo.
Agora, imaginem esse período de 120 dias multiplicado pelo tempo de carreira de um atleta que gira em torno de 15 anos. São 1800 dias, praticamente cinco anos de concentração. É uma loucura ficar tanto tempo “preso” sem fazer nada, longe da família, dos filhos e amigos.
Não estou reclamando da nossa vida, pois ganhamos muito bem para abrirmos mão de algumas coisas por um curto período de tempo para podermos desfrutá-las melhor no futuro. Nada se conquista sem sacrifício e somos exemplos disso para a sociedade. Eu particularmente sei da importância do meu corpo, do descanso e da alimentação para o meu desempenho dentro de campo. Mas a questão que estou levantando é: será que é necessário e faz tanta diferença assim se concentrar todo esse tempo?
Será que não é por isso que quando estão livres, os jogadores acabam extravasando de maneiras distintas e nem sempre tão corretas?
A resposta passa por uma constatação: jovens entre 18 e 30 anos com uma boa condição financeira, estão curtindo a vida, se divertindo em festas, viagens e finais de semana na praia ou na chácara. Frequentam aniversários e casamentos (perdi as contas de eventos importantes que não participei) às sextas e sábados à noite e se divertem com as crianças aos domingos.
Se estivessem enfiados num quarto de hotel todos os finais de semana durante 15 anos, será que nos seus dias de folga, não gostariam de fazer tudo isso de uma só vez? Pois é, é a mesma vontade que os atletas têm.
Não sou contra a concentração, sou contra o elevado número de concentrações a que somos expostos. Talvez porque ainda tenho dúvidas com relação à verdadeira motivação dos clubes e treinadores que optam por esse tipo de tática para justificar bons ou maus desempenhos dentro de campo.
Questiono a privação à liberdade e as dúvidas em relação à maturidade e profissionalismo dos atletas brasileiros. Sim, dos brasileiros, porque aí é que entra o outro lado.
Na Europa, quando o jogo é a mais de duas horas de vôo da cidade, voamos no dia anterior e dormimos no hotel. Quando há um jogo muito importante em casa, passamos somente a noite da véspera no hotel. Fora isso, o encontro é na hora do almoço ou direto no estádio e isso não altera em nada a performance dos atletas PROFISSIONAIS.
A pergunta que vocês devem estar fazendo é: estamos preparados para isso no Brasil? Acho que sim, acho que a lei da sobrevivência fará com que os melhores e os mais profissionais fiquem, enquanto os outros serão rejeitados pelo próprio meio.
A torcida sabe quem está na noite ou não, o desempenho físico do atleta mostrará se ele se cuidou ou não na noite anterior e os clubes e os torcedores não aceitarão a falta de profissionalismo. Pode demorar um pouquinho, mas em menos de um ano tenho certeza de que todos estarão se cuidando e agindo como profissionais. Seria um voto de confiança.
Para a maioria das pessoas, ficar em um hotel lembra férias e curtição. Estar cada final de semana numa cidade do país, viajando, comendo bem e jogando bola seria um sonho pra qualquer um. Mas a nossa realidade não é bem essa. Aliás, já ouvi tantos mitos sobre o que supostamente se passa em uma concentração que resolvi escrever um post sobre isso.
Aeroporto, ônibus, hotel. Chegando ao hotel, subimos ao nosso andar, onde ficam todos os atletas divididos em quartos de dois. Desse andar só saímos para almoçar e jantar numa sala reservada do próprio hotel. As outras três refeições que temos (café da manhã, café da tarde e café da noite) são feitas no próprio andar dos quartos, para facilitar nossa vida e evitar contato com outras pessoas.
Além das refeições, temos costumeiramente duas palestras feitas pelo treinador, uma no sábado à noite e a outra no domingo antes do jogo, onde são passados vídeos sobre os adversários, sobre a nossa equipe, erros, acertos, possibilidades táticas e discursos motivacionais para que a equipe entre voando em campo.
Os horários para as refeições e palestras são sempre respeitados e para garantir isso, os seguranças do clube se revezam e ficam 24 horas por dia no andar do hotel, nos avisando e nos fiscalizando sobre as atividades e os horários. Eles são vigias e quando você quer receber alguém no lobby do hotel (porque no andar é proibido até para a família), um dos seguranças desce com você, para que nada de errado aconteça.
Por tudo isso, 90% do tempo concentrado se passa dentro do quarto. Aí é que vem o problema, já que não existem muitas atividades que podem ser feitas ali dentro. Já concentrei com um monte de gente, cada um tem um estilo próprio e não é fácil achar um companheiro que não te atrapalhe muito. (risos)
Uns conseguem ligar ao mesmo tempo a TV, o Ipod e ainda ficar na internet enquanto você quer dormir (e vice-versa). Outros dormem até meio dia, quando você decide acordar cedo e por respeito ao sono alheio resolve não ligar a TV. Uns falam ao telefone como se estivessem debaixo de uma cachoeira, gritando horrores para serem escutados. Tem aqueles que deixam o celular ou o rádio no último volume e recebem ligações às 2 horas da manhã. Além disso, muitas outras diferenças culturais e de gosto podem surgir quando você concentra com um colega de profissão. O que é natural, afinal cada um tem seu jeito.
Vou citar os hobbies mais costumeiros para se distrair em uma concentração e depois aceito sugestões de vocês… Prometo que passarei para todos os jogadores, afinal, adivinhem onde estou escrevendo esse texto? (risos)
Vejam as inúmeras opções disponíveis:
1) Dormir
2) Conversar (sozinho ou com alguém)
3) Ficar na Internet
4) Ler um livro
5) Utilizar a TV (filme, seriado, vídeo game)
6) Jogar baralho
7) Ouvir música
8) Falar no telefone
Mais uma vez, olhando assim, parecem férias e lazer, mas quando chegamos no meio do ano já não há filmes que não tenhamos visto, não há conversas com o companheiro de quarto que já não tenham sido discutidas, não há Twitter, MSN, Facebook ou internet que distraia. Jogos de baralho são raros, pelo menos nos clubes por que passei. É difícil juntar mais de quatro ou cinco atletas, pois cada um tem seu ritual de matar o tempo e de se preparar para o jogo.
Agora, imaginem esse período de 120 dias multiplicado pelo tempo de carreira de um atleta que gira em torno de 15 anos. São 1800 dias, praticamente cinco anos de concentração. É uma loucura ficar tanto tempo “preso” sem fazer nada, longe da família, dos filhos e amigos.
Não estou reclamando da nossa vida, pois ganhamos muito bem para abrirmos mão de algumas coisas por um curto período de tempo para podermos desfrutá-las melhor no futuro. Nada se conquista sem sacrifício e somos exemplos disso para a sociedade. Eu particularmente sei da importância do meu corpo, do descanso e da alimentação para o meu desempenho dentro de campo. Mas a questão que estou levantando é: será que é necessário e faz tanta diferença assim se concentrar todo esse tempo?
Será que não é por isso que quando estão livres, os jogadores acabam extravasando de maneiras distintas e nem sempre tão corretas?
A resposta passa por uma constatação: jovens entre 18 e 30 anos com uma boa condição financeira, estão curtindo a vida, se divertindo em festas, viagens e finais de semana na praia ou na chácara. Frequentam aniversários e casamentos (perdi as contas de eventos importantes que não participei) às sextas e sábados à noite e se divertem com as crianças aos domingos.
Se estivessem enfiados num quarto de hotel todos os finais de semana durante 15 anos, será que nos seus dias de folga, não gostariam de fazer tudo isso de uma só vez? Pois é, é a mesma vontade que os atletas têm.
Não sou contra a concentração, sou contra o elevado número de concentrações a que somos expostos. Talvez porque ainda tenho dúvidas com relação à verdadeira motivação dos clubes e treinadores que optam por esse tipo de tática para justificar bons ou maus desempenhos dentro de campo.
Questiono a privação à liberdade e as dúvidas em relação à maturidade e profissionalismo dos atletas brasileiros. Sim, dos brasileiros, porque aí é que entra o outro lado.
Na Europa, quando o jogo é a mais de duas horas de vôo da cidade, voamos no dia anterior e dormimos no hotel. Quando há um jogo muito importante em casa, passamos somente a noite da véspera no hotel. Fora isso, o encontro é na hora do almoço ou direto no estádio e isso não altera em nada a performance dos atletas PROFISSIONAIS.
A pergunta que vocês devem estar fazendo é: estamos preparados para isso no Brasil? Acho que sim, acho que a lei da sobrevivência fará com que os melhores e os mais profissionais fiquem, enquanto os outros serão rejeitados pelo próprio meio.
A torcida sabe quem está na noite ou não, o desempenho físico do atleta mostrará se ele se cuidou ou não na noite anterior e os clubes e os torcedores não aceitarão a falta de profissionalismo. Pode demorar um pouquinho, mas em menos de um ano tenho certeza de que todos estarão se cuidando e agindo como profissionais. Seria um voto de confiança.
quarta-feira, 6 de julho de 2011
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