Atletas de alto rendimento têm sido cada vez mais exigidos fisicamente, o que têm provocado uma alta incidência de prejuízos causados a saúde dos mesmos. Neste sentido, muito tem se falado sobre a síndrome do excesso de treinamento, conhecido também como overtraining (Rohlfs et al 2005).
O overtraining pode ser caracterizado por alterações metabólicas, redução daperformance, alta incidência de lesões musculares, infecções virais e bacterianas decorrentes da má funcionalidade do sistema imune, dores musculares, fadiga crônica, alterações no estado de humor, presença de fadiga constante, insônia, má alimentação, entre outros sintomas (Rohlfs et al 2005).
Rohlfs et al 2005 citam que existem fatores externos que podem desencadear em um quadro de overtraining, como um número elevado de competições durante uma temporada, intervalos de recuperação inadequados entre as sessões de treinamento, uma excessiva expectativa de resultados por parte de treinadores ou familiares, o ambiente social do atleta, problemas de caráter pessoais, más condições médicas, fatores ambientais (altitude, temperatura e umidade). Estes mesmos autores citam ainda que a síndrome do excesso de treinamento é definida como um distúrbio neuroendócrino no qual a serotonina parece ter um importante papel nesta fisiologia ao lado de outros neurotransmissores. Neste sentido, a redução do conteúdo de glicogênio muscular, e conseqüente depleção dos estoques de energia, podem estimular a oxidação intramuscular de aminoácidos de cadeia ramificada (AACR), ou seja, leucina, isoleucina e valina. Desta forma, ocorreria uma diminuição da concentração plasmática desses aminoácidos, o que facilitaria a captação hipotalâmica de triptofano livre e, conseqüentemente, promoveria uma maior síntese de serotonina (ou 5- hidroxitriptamina) a partir do triptofano, desencadeando a fadiga central e, possivelmente, a síndrome de overtraining (Rogero et al, 2005)
Outro fator que pode ser um sinalizador da síndrome é o quadro inflamatório decorrente do exercício. Quando se realiza exercícios excêntricos ou com isquemia muscular, é comum que a fibra muscular sofra uma lesão, com aumentos de enzimas e citocinas plasmáticas (resposta inflamatória moderada), que visam a recuperação e regeneração muscular (Barquilha et al, 2010; Smith, 2003; Smith, 2004). Porém, quando não se têm uma recuperação adequada, essa resposta inflamatória passa a ser sistêmica e prejudicial ao atleta, o que pode acarretar em uma síndrome do excesso de treinamento (Rogero e Tirapegui, 2003). É comum encontrar aumentos de monócitos circulantes e citocinas como TNF-alfa, IL-6 e IL-1 durante um quadro deovertraining.
Outra teoria do overtraining é a da diminuição dos níveis de glutamina plasmática em exercícios de características prolongadas, sendo que a glutamina é utilizada por vários tecidos, em especial pelas células do sistema imune. Assim, uma diminuição da glutamina plasmática circulante pode interferir negativamente na função do sistema imune, aumentando a suscetibilidade a infecções do trato respiratório superior, sendo estas freqüentemente encontradas em indivíduos com overtraining (Rogero et al, 1995).
Estudos também têm encontrado altas concentrações de cortisol, noradrenalina e adrenalina, assim como baixas concentrações de testosterona, em indivíduos com overtraining (Hoogeven et al, 1996; Hooper et al, 1995).
Questionários psicossociais têm sido utilizados como ferramentas para detecção do overtraining. Neste sentido, um dos mais utilizados é o POMS (The Profile of Mood States) que avalia componentes relacionados com humor, como a ansiedade, raiva, depressão, entre outros. Alterações dos marcadores do estado de humor são utilizados frequentemente com o diagnóstico do estado de overtraining (Hoogeven et al, 1996; Hooper et al, 1995).
É importante salientar que a recuperação de um atleta acometido por essa síndrome pode demorar cerca de seis meses (Smith, 2000). Então, uma correta periodização do treinamento faz-se necessária para se evitar essa síndrome e evitar problemas futuros. A utilização de questionários também parece ser uma ferramenta útil na prevenção dessa síndrome, assim como a percepção do próprio atleta ou do responsável pela preparação física com relação a alterações que indiquem esse quadro. Antes de entrar em overtraining,Rogero e Tirapegui (2003) citam que ocorre um quadro anterior ao de overtraining, denominado overreaching.Nesta fase que antecedo o overtraining, a detecção dos sintomas negativos é mais fácil, assim como seu tratamento. Porém, caso não seja controlado, o estado de overreaching pode se converter em overtraining.